Há uma incongruência curiosa na nossa economia. É como se estivéssemos a viver no gelo polar e no calor dos trópicos em simultâneo. No entanto, suores frios são geralmente sintomas de gripe.
Pois bem, ao mesmo tempo que a Euribor converge para zero (1), as taxas dos empréstimos bancários sobem e o crédito torna-se mais caro para o Estado, empresas e consumo. Isto significa, por exemplo, que eu pago menos pelo empréstimo à habitação mas o Estado paga muito mais para se financiar, o que agrava o défice. E se o primeiro exemplo é uma benesse que me refresca, o segundo tem impactos incendiários.
Convivemos com taxas mínimas e taxas máximas num mesmo momento.Por um lado,
o aumento das taxas e as restrições ao crédito a que assistimos atualmente denotam o fim de um período de expansão baseado no crédito e o início de um período de crise.
De facto, o desenvolvimento da economia é feito por ciclos de crescimento e de
arrefecimento económico. A novidade está na dimensão desses ciclos.
Devido ao atual sistema bancário de reservas fracionarias, que dá origem a
uma economia baseada no crédito, estes ciclos económicos são
extremados. No início há uma explosão de crescimento devido à abundância
de crédito na economia até que se atinge o limite e o sistema colapsa. Há
uma catadupa de incumprimentos e falências, os bancos têm de reconhecer
perdas imensas, ficam descapitalizados e deixam de emprestar. O
dinheiro, que no sistema atual é criado através do crédito, literalmente
evapora-se da economia.
É então que o BCE tenta desesperadamente fazer uso do único instrumento que ainda controla: baixa a taxa de juro de referência para valores próximos de zero com vista a injetar liquidez e a salvar os devedores. Num momento em que toda a gente está endividada, desde o Estado às famílias, o Banco Central procura manter o custo da dívida baixo para evitar falências generalizadas.
E assim se cria um sistema esquizofrénico: a cabeça no forno, os pés no congelador, dizem os economistas que a temperatura média do corpo está normal.
No entanto, ao contrário da esquizofrenia humana, esta pode ser evitada se o quisermos. Sim, porque é possível criar um sistema diferente do atual, que não seja tão absurdo, anti-natura e matematicamente destinado ao colapso. Um sistema que não tenha paradoxos como este: "estamos com uma crise da dívida, mas se por milagre todos os devedores pagassem as suas dívidas, todo o dinheiro desapareceria e ainda haveria dívida por pagar!" Este é o sistema atual.
(1) A Euribor a 3M é 0,233% à data de 20 de Setembro. No entanto este valor é nominal, o que considerando taxas de inflação acima dos 3% representa uma taxa dei juro real negativa de -2,767%. Isso significa que atualmente investir dinheiro à taxa Euribor gera ao final de um ano a perda de -2,7% do poder de compra!
Muito bom Cristi :) como sempre.
ResponderEliminarObrigada! :)
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