100.000.000.000€ foi o pacote de ajuda que Espanha vai receber para recapitalizar a banca.
Isto faz-me pensar.
1) Porquê este desespero em ajudar os bancos?
Não vejo ninguém desesperado em ajudar as famílias com dificuldades ou as empresas à beira da falência. Aliás, as garantias do Estado social estão a sofrer cortes significativos.
2) Onde ficou a economia de mercado?
Supostamente vivemos num sistema capitalista, onde a livre iniciativa e a concorrência garantem a eficiência do mesmo. Inclusive, se uma empresa por algum erro cometido ou falta de visão estratégica deixa de ser viável, a lei do mercado diz que deve ir à falência, sendo substituída por outras mais fortes ou mais dinâmicas ou mais eficientes ou mais competitivas. Ora, os bancos são empresas... mas 1 + 11 zeros para pagar os erros que os levaram à beira do colapso
não é faz parte do modelo de economia de mercado (nem de nenhuma
economia que aspire a algum nível de justiça ou de equidade).
Ou seja, vivemos numa sociedade que é socialista com os bancos e capitalista com os cidadãos.
3) Mas de onde vem a nossa angústia em salvar os bancos?
Por que motivo é que apesar destas incoerências, continuamos a apoiá-las? Parece esquizofrénico, mas é simples: porque os bancos têm o nosso dinheiro. Se eles falirem, ele desaparece. Precisamos salvá-los, para nos salvarmos. Estamos encurralados.
4) Mas se o dinheiro é nosso, como é que o podemos perder?
Pois, essa é a maior incoerência de todas. O dinheiro não é nosso!
No momento que depositas o dinheiro no banco é equivalente a tê-lo emprestado. Tu já não tens o dinheiro, tens apenas a promessa do banco de te devolver o dinheiro quando tu o pedires. Até lá, o banco pode utilizar e aplicar o teu dinheiro da forma que melhor lhe aprouver. Quem sabe em alguma bolha especulativa, que mais tarde rebenta e o teu dinheiro desaparece. E tu, com medo de perder o teu dinheiro, concordas com 1+11 zeros para encobrir as fraudes, especulações ou no mínimo os erros estratégicos dessas empresas chamadas bancos. 1+11 zeros para salvar quem deveria simplesmente falir, porque é assim que a economia de mercado funciona: quem comete os erros, paga-os.
5) E se o dinheiro fosse realmente nosso?
E se em vez de aceitar 1+11 zeros a favor dos bancos, reivindicássemos o direito a ser donos do nosso dinheiro? Reivindicássemos um modelo bancário que nos permitisse, por exemplo, sermos nós a escolher se queremos que o nosso dinheiro seja investido (com risco e rendimento associado) ou se queremos que ele esteja seguro (guardado num cofre e permanecendo nossa propriedade). Desta forma, seríamos nós a escolher quanto queremos investir e quanto queremos ter como reserva segura. Neste caso, quando decisões menos acertadas levassem um banco à falência, o valor das conta "cofre" seria sempre garantido, porque nunca fora propriedade do banco. Já a conta "investimento" teria sempre um retorno mas também um risco associado, nomeadamente o risco de falência do banco.
Esta é uma proposta simples, que pode fazer muita diferença. Se ficaste interessado, recomendo que explores o site www.positivemoney.org.uk
Em face a tantos desafios que enfrentamos atualmente, o maior desafio é questionar o óbvio. Será que a forma como o sistema funciona é a única forma?
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